A FELICIDADE

Eis um tema, por demais envolvente, que busco neste artigo abordar, mesmo porque sempre aspiramos desfrutá-la permanentemente. Ah! somente em sonho, mas acordamos e, outra realidade se nos apresenta.

Reli, de Roberto Shinyashiki, O Sucesso é Ser Feliz, no qual me amparei para o presente trabalho. Eis um de seus relatos que julguei oportuno transcrevê-lo:

"Quando eu era criança, sentia-me muito infeliz. Havia tantas coisas que queria fazer e não podia! Quando me sentia frustrado, pensava no dia em que entraria na escola. Seria então muito feliz. Tudo daria certo,passaria a ser mais respeitado e não teria mais problemas. Quando entrei no primário, percebi que ainda faltavam muitas coisas para ser feliz".  Assim o autor descreve sua trajetória de vida na ânsia de encontrar a felicidade, até conscientizar-se que não era desse jeito que a vida funcionava com relação  a felicidade e  concluir que ela não existe. Apenas desfrutamos de momentos felizes e quando dela nos deparamos, aproveitamo-la em toda a sua plenitude.

O autor nos conta que não se conformava que a vida se resumisse numa coletânea de momentos. Não pode ser isso!  Deus não poderia ter criado o ser humano para desfrutar apenas de momentos prazerosos. Então o filósofo  alemão Arthur Schopenhauer (1788 ? 1860) tem razão quando afirma que "a vida não é bela, ela oscila continuamente entre a dor e a monotonia". Ainda, segundo o mesmo filósofo, "a vida é um negócio que não cobre seus custos".

Em outra passagem do livro,  Dr. Roberto relata que decidiu ir para o Oriente e conversar com os mestres e saber o que eles pensavam a respeito da felicidade. Como se buscando a felicidade, escolheu o Nepal, em um mosteiro budista nos arredores de Katmandu. Foi então instado a falar com um mestre. Tamanha foi a sua surpresa quando se viu diante de uma mulher bonita e morena, que falava inglês com sotaque francês. Ele então perguntou: vai me levar ao mestre? Quero falar com o mestre.Então ela disse: Eu sou o mestre. A princípio não entendeu e insistiu na pergunta e ela respondeu: Eu sou o mestre.

Diante do quadro ele pensou: vou fazer perguntas de difíceis respostas para me inteirar se realmente ela fala a verdade, ou então me leva ao mestre de verdade. Assim o fez: O que é o budismo? A sua resposta: A base do budismo é o fato de que todo ser humano sofre. E por que sofre? Porque são ignorantes ? Ela respondeu.

Segundo o autor do livro, o que nos falta "é ter a compreensão de que as coisas na nossa vida são dinâmicas e fluidas. Quando o ser humano está feliz bloqueia a felicidade, pois deseja a eternidade para esse momento. Torna-se rígido, com medo de que o prazer acabe. Quando está infeliz, julga que o sofrimento não tem fim, mergulha na sombra, e assim amplia sua dor". Por concluir: "Saber apreciar a alegria e a dor constitui a base da felicidade".

Devemos dialogar entre a alegria e a dor, criando um jeito próprio de viver; é um construto a ser formado pela nossa própria experiência de vida buscando a felicidade.

Como já vimos, a felicidade é uma questão muito particular de cada ser humano.

E para os filósofos? Em Tales de Mileto que viveu entre 7a.C e 6 a.C. Ser feliz é ter corpo forte e são, boa sorte e alma formada.

Para Sócrates (469 a.C - 399 a.C.), a felicidade seria o bem da alma, através da conduta justa e virtuosa. Para ele o homem não era somente corpo, mas também alma. Prova disso, cercado pelos discípulos, bebeu a taça de veneno que lhe foi imposta e parecia feliz a todos os que assistiram em seus últimos momentos de vida.

Platão(348 a.C - 347 a.C ), o maior discípulo de Sócrates - considerava que todas as coisas têm sua função e a função da alma é ser virtuosa e justa, de maneira que, assim agindo, obteria a felicidade. Isso é também ético e politico, para ele.

Em Aristóteles (384 a.C ? 322 a.C.) - Esse dedicou todo um livro à questão da felicidade: Ética a Nicômaco, (seu filho) - Para ele, a maior virtude de nossa "alma racional" é o exercício do pensamento. A felicidade se identifica com a atividade pensante, inclusive aproximando o ser humano com a divindade. Além de considerar a política como uma extensão da ética e, é função do Estado criar as condições para o cidadão ser feliz.

Com o advento da Idade Média e principalmente junto aos filósofos cristãos ( Agostinho de Hipona (354 d.C - 430 d.C.), Tomás de Aquino (1225 - 1274). Para eles, além da felicidade, o que  conta mesmo é salvação da alma. 

Na Idade Moderna os filósofos voltaram-se a  se debruçarem sobre o tema:

John Locke (1632 - 1704) e Leibniz (1646 - 1716), identificaram a felicidade como um "prazer duradouro".O John Locke, escreveu seu epitáfio: "Se perguntas que tipo de homem ele era, ele responde que foi feliz em sua mediocridade".

No entanto, para Immanuel Kant (1724 - 1804), na sua obra "Crítica da razão prática", define a felicidade como  "a condição do ser racional no mundo, para quem, ao  longo da vida, tudo  acontece de acordo com o seu desejo e vontade".Isto é, procurar merecer a felicidade. É bom lembrar que na época de Kant, a ideia de felicidade ganhou destaque no pensamento político e passou a ser um "direito do homem" e está consignado na Constituição dos EE.UU. de  1787, portanto, sob influência do iluminismo.

No século XX, o filósofo inglês Bertrand Russel (1872 - 1970)  em sua obra "A Conquista da Felicidade" conclui que é necessário alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens para ser feliz. Em síntese: a felicidade é a eliminação do egocentrismo.

No seu livro de 1989 "A felicidade Humana" do filósofo espanhol Julián Mariás(1914 -  2005), ele nos passa a ideia de que a ausência de uma reflexão filosófica sobre a felicidade, no mundo  contemporâneo, talvez seja um sintoma de vivermos no mundo onde predomina  o  individualismo.

Já a filósofa Russa Ayn Rand (1905 - 1982) em seu livro - A Virtude do Egoísmo - deixa clara a distinção entre a busca da manutenção da vida eda felicidade. Para ela, os direitos sociais são necessários para manutenção da vida de forma digna, mas não necessariamente para alcançar a felicidade. "A felicidade é o estado de consciência que procede do alcance dos valores de cada individuo". Ou "... a sua felicidade é a medida do seu sucesso no serviço de sua vida". Ela afirma que devido à natureza metafísica do homem e da existência, ele tem que manter sua vida pelo seu próprio esforço. Valores como: riqueza e conhecimento. Ainda para ela, em uma sociedade aberta cada individuo é livre para buscar a sua maneira de viver, inclusive a da felicidade por meios racionais ou irracionais.

O filósofo francês André Comte-Sponville(1952) em seu livro - A Felicidade Desesperadamente - trata a felicidade como sendo todo lapso de tempo durante o qual a satisfação parece imediatamente possível e que para se obter a tão sonhada felicidade é preciso querer, e muito. Mas não é um querer passivo. É um querer  "desesperado".

Como conclusão de desse trabalho, não poderia deixar de mencionar a opinião do grande filósofo, escritor e professor da PUC - Dr. Mário Sérgio Cortella, com relação a felicidade. Para ele, a felicidade é uma ocorrência eventual; uma vibração intensa; uma sensação de vitalidade que nos atinge e dá um gosto intenso por estarmos vivos. Mas a felicidade é episódica; uma ocorrência eventual. A vida é carregada por momentos de turbulência.

Finalmente, devemos dizer que a felicidade é sempre uma busca de ser feliz mais que o estar feliz e, que cada um de nós representa uma pequena sociedade.

Para reflexão deixo-lhes a seguinte frase do cineasta , escritor e ator norte-americano Woody Allen(1935): "Como eu seria feliz se fosse feliz!"

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