O TEMPO COMO EVOLUÇÃO CRIADORA

Parto da tomação do tempo como duração e sua evolução no sentido filosófico e, não poderia deixar de citar Heráclito de Éfeso: tudo flui e a realidade resulta em mudanças, tomando-se o tempo como duração e consequentemente a sua evolução pelo fluir ininterrupto de experiências passadas e futuras reunidas no presente. A este momento de nossa vida chamamo-lo de maturidade e é sempre uma retomada de contato com outras temporalidades enriquecedoras de nossa existência  neste mundo infinito e, nós, por sermos finitos, o tempo nos é dado; é a tardança que nos espera e nunca nos completamos.
Diante dessa preliminar, quero inserir nosso país no contexto, apesar de extremamente jovem, formando assim sua base na pirâmide social, vem gradualmente se tornando uma nação de idosos. No censo de 2010(IBGE), a percentagem de pessoas com 65 anos ou mais atingiu a 7,4% do total da população brasileira. A cada década vem se repetindo: em 1991, somava 4,8%; em 2000: 5,9%. Contrariamente, a parcela da população jovem com até 25 anos vem diminuído e, também a taxa de natalidade e o número de filhos por casal. Esta é uma tendência no mundo  todo e, em especial, em nosso país, acompanhando o seu crescimento econômico e conquistas sociais, avanços tecnológicos na área de saúde, alterando o perfil social do brasileiro e os idosos passando a representar um grande peso em nossa sociedade.
Ante esse fato, estamos preparados para o enfrentamento dessa nova realidade social? Sabemos lidar com a velhice e seus desafios? Compreendemos a velhice dos outros e a nossa? 
A velhice nos proporciona grande experiência de vida e muita sabedoria vivenciada de décadas e conservada pela memória. É a dinâmica do tempo, sua trajetória, ora linear e ora sinuosa, suas rupturas e seus recomeçar. Eis a questão ao se discutir a longevidade. 
Avaliamos nossa vida pelo tempo em atividades profissionais acumuladas através dos dias meses e anos, gerando nossas experiências temporais, lembramos com saudade de fatos passados e, há sempre aquela preocupação com o futuro que está para chegar.  O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) nos afirma que a verdadeira filosofia é ?reaprender a ver o mundo com todas as nossas experiências, enquanto são nossas, se dispõem segundo o antes e depois, (...) porque ela (a temporalidade) é o caráter mais geral dos fatos psíquicos?. Vivemos no presente em constante mudança, mas sempre enriquecida pela acumulação de experiências, mas em vista do porvir e lembrando que o tempo passa e, por essa incessante passagem é que pautamos nossa vida; é por essa espessura temporal que estruturamos a nossa existência. Há, portanto, uma comunicação interior com o tempo e estamos situados nele, é uma realidade.
Quando o filósofo francês aborda esse fenômeno, ele se utiliza da célebre metáfora de Heráclito, eternizada pelo escoar de um riacho. ?Diz-se que o tempo passa ou se escoa. Fala-se do curso do tempo. (...) Se o tempo é semelhante a um rio, ele escoa do passado em direção ao presente e ao futuro. O presente é consequência do passado, e o futuro, a consequência do presente.? Entende-se, assim, o tempo como um fluxo contínuo, é, na verdade uma sucessão de agoras, uns encadeamentos de momentos que se unem, de instantes que aparentemente não guardam nenhuma relação entre si, a não ser a sua posição fixa no passado e no porvir. Numa análise mais profunda e reflexiva conclui-se que tal concepção de tempo não é verdadeira, haja vista que o desenrolar da percepção de tal movimento de mudança (transformação) na nascente e no leito do rio, Merley-Ponty enxerga uma temporalidade que, longe de já estar feita em suas três dimensões fundamentais - passado, presente e futuro - vai se fazendo em cada etapa, embora não haja uma separação rígida entre as três. Isto é, a mesma água que passa à frente de nossos olhos prepara-se antes como nascente, e, em seu fluir presente, já antecipa o seu desaparecimento em direção ao estuário.
Partindo-se de uma visão de tempo objetivo, recortado, separado, visto por um observador imparcial, de fato haveria uma metamorfose constante de estados temporais. Contudo ?a mudança supõe um certo  posto onde eu me coloco e de onde vejo as coisas desfilarem; não há acontecimentos sem alguém a quem eles advenham, e do qual a perspectiva finita funda a sua individualidade. O tempo supõe uma visão sobre o tempo.? Isto é, o passado e o futuro pode não ser o mesmo mas podemos confundi-lo, bem como os limites do presente, rígidos e bem traçados, enfraquecer-se e facilmente se flexibilizar, portanto, o tempo não é um elemento exterior em relação ao qual só haveria a necessidade de constatar o fluxo e suas mudanças; quando se estabelece uma relação com o tempo significa, antes de tudo, fazê-lo escoar, desenrolar sua perene mutação que se cria a si mesmo. O sujeito forma seu próprio tempo, com o auxílio das experiências sedimentadas na memória e, mais, os anseios e intenções que ele projeta em seu horizonte. 
Conclui-se, assim, que o passado e o futuro reclamam uma nova conceituação. Não se pode pensar um horizonte de experiências não realizadas, que estão para se desenrolar, diante de uma coleção de fatos já sedimentados em nossa memória. Desta maneira, devemos compreender o tempo como um único fenômeno de jorro e de escoar, e não como uma soma ou aglutinação  de intenções futuras e de fatos do passado, pois ? o tempo é pensado por nós antes das partes do tempo, as relações temporais tornam possíveis os acontecimentos no  tempo? (Merleau-Ponty). Para se vivenciar o tempo é preciso, antes de tudo, situar-se no mundo, existindo nele num atrelamento do tempo à subjetividade. O presente é o nexo entre o passado e o porvir.
Segundo Merleau-Ponty ao ler Henry Bergson (1859-1941) ?é então que se apercebe de que não temos acesso ao tempo apertando-o, como por meio de pinças, entre os pontos de referência da medida; ao contrário, para termos idéia dele, é preciso deixá-lo fazer-se livremente, acompanhar o nascimento contínuo que o torna sempre novo e, justamente por isso, sempre o mesmo?. Eis o sentido do tempo como duração e evolução criadora e, em razão desse fato, vivemos no tempo, executamos nossos atos para o tempo e direcionamos nossa vida segundo o tempo, e é na nossa velhice que exercitamos uma das modalidades da existência mais decisivas, graça a vivência profunda do tempo e de suas vicissitudes e alteridade. Contemplamos uma eterna retomada. É o momento de que (re)aprendemos a mirar a vida a partir de outras perspectivas, enfim, passamos a iluminar outras sendas para o nosso porvir que está sendo feito.
Conclusão: É na velhice que está o verdadeiro terreno da sabedoria; somente com o aprendizado do tempo é que enriquecemos nossa existência.

Autor:
Manoel Antonio dos Santos

Guarabira-PB, 13 de agosto de 2014

Associação Comercial e Empresarial de Guarabira

Portal de Notícias da ACEG, aqui você encontra as últimas notícias sobre as ações, eventos e cursos realizados pela ACEG na cidade de Guarabira e região.