O Homem Cordial - Realidade ou Mito
Através de dois livros, CASA GRANDE & SENZALA (1933) ? de
Gilberto Freyre e RAÍZES DO BRASIL (1936) - de Sérgio Buarque de Holanda,
respectivamente, ambos da década e 30, os autores, como antropólogos,
sociólogos ou historiadores, buscaram traçar o perfil da identidade nacional: a
cordialidade.
O conceito de homem cordial como marca registrada levada em
conta na formação social do brasileiro, pelos sociólogos em questão, tem sua
base nos séculos nos quais o mundo
agrário era dominante - período do patriarcalismo - onde a família patriarcal
ditava o tom das relações de
sociabilidade deste ou daquele grupo. Pensava-se em grupo, nada de coletivo.
Vivenciávamos o tempo da Casa Grande e Senzala, autocentramento social e
cordial com seus privilégios.
Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque, ao tempo em que
identifica o mundo agrário como fator preponderante e delimitante da formação
social da nacionalidade e, consequentemente,
do conceito de homem cordial, visualizava-se que no universo urbano e
industrializado iria ocorrer o esvaziamento desse traço definidor da
nacionalidade brasileira. Portanto, na imaginação crítica de Sérgio Buarque, a
abolição da escravatura e a urbanização levariam o homem cordial ao museu da
história, mesmo por que o avanço civilizatório já por si propicia tal condição.
Ressalte-se, ainda, não ser esse um traço exclusivamente brasileiro. É o que
deixa transparecer dos estudos de Sérgio Buarque de Holanda.
Dentro do contexto conceitual e interpretativo, polêmicas
surgiram entre Sérgio Buarque e o escriitor
Cassiano Ricardo - autor de " O Homem Cordial". Em resposta, assim se
expressou Sergio:"O homem cordial se acha fadado a desaparecer, onde ainda não
desapareceu de todo."
No estudo de Raízes do Brasil, conclui-se que o homem cordial
se tornou em desuso pela modernização do país. Não podendo ser uma imagem
multissecular de identidade.
Voltemos ao texto de
1948 do sociólogo em estudo: "Quero frisar, ainda uma vez, que a própria
cordialidade não me parece virtude definitiva e cabal que tenha de prevalecer
independentemente das circunstâncias mutáveis de nossa existência." Concluindo-se que o homem cordial até aqui estudado não expressa a brasilidade.
Portanto, o que existe acerca do assunto é mais um mito que realidade.
È inegável a docilidade, o coração aberto e outros afetos bem
característicos de nosso povo, com ações de impulsos e emotividades, sem contudo
esconder uma agressividade sem tamanho.
Por fim, registre-se que a noção do homem cordial foi
alicerçada por Gilberto Freire, relacionando cordialidade a miscigenação do
nosso povo com as tradições ibéricas, proporcionando esta afabilidade e
simpatia, que se traduz em virtudes cordiais.