Um ponto de vista - LIBERDADE - na perspectiva sociológica

É comum dizermos que vivemos num país livre e podemos dizer o que bem entender; é como se tivéssemos nos utilizando do livre arbítrio. Assim pensamos: a liberdade é como o ar que respiramos; nem o questionamos, a menos que estejamos em ambiente abafado, com muita gente; é autoexplicativo.

Nesse contexto, li recentemente e o recomendo a todos a sua leitura, pela análise sociológica que o faz, o livro ?LIBERDADE? -  do consagrado sociólogo polonês  Zygmunt Bauman (1925), mostrando e, essa é sua pretensão, que aquilo que consideramos evidente e claro, não o é, quando nos referimos a liberdade.

O Bauman é um dos pensadores mais profícuos do nosso tempo. Sua produção analisa a transição das sociedades do mundo moderno ao pós-moderno. No modernismo a ideia de controle, resultou no totalitarismo e no holocausto; na pós-modernidade, que vivemos hoje, a ideia de liberdade, nessa sociedade denominada líquido-moderna e, ao mesmo tempo, cheia de ambiguidades, requerendo um aprofundamento para que se vislumbre um futuro, se é que é possível, eis a questão.

Será que um país livre nos garante fazer tudo sem medo de punição? A sabedoria de nossas ações não é condição para as fazermos; uma ação não precisa ser razoável para ser permitida. Está em um país livre significa que as coisas que fizermos serão de nossa responsabilidade. Somos livres para buscar nossos objetivos e alcançá-los, bem como para errarmos. Ambos estão no mesmo pacote. Então a liberdade é a ausência de restrições.

?O ser humano individualmente, segundo Bauman, é ? como se fosse ?por natureza? ? a fonte verdadeira e o mestre de suas ações e pensamentos; que se for deixado ao seu próprio discernimento poderá dar forma e moldar os próprios pensamentos e ações conforme sua vontade e de acordo com a sua intenção.? Portanto, para ter sentido, as nossas ações são os efeitos das intenções e propósitos dos ?atores?.

Ainda, afirma o Bauman , ser essa  lei específica que nomeia o ser humano individualmente como o objeto dos direitos, obrigações e responsabilidade por seus atos.

A sociologia surgiu como resultante da Revolução Francesa (1789) e da Revolução Industrial (1780 a 1860). Foram os cenários geradores das convicções baseadas no senso comum, ou realidades sociais. A Europa passando por grandes transformações na vida social da população, com ênfase no processo de industrialização e urbanização da sociedade capitalista. Foram quebrados os costumes e tradições, como a família patriarcal, servidão e o trabalho manufatureiro. Daí resultante em aumento da criminalidade, alcoolismo, violência, prostituição, além de surtos de epidemias de tifo e cólera.

Um dos objetivos da Revolução Francesa era fazer triunfar os ideais seculares como liberdade, igualdade e fraternidade sobre a ordem social tradicional, de forma que essas ideias se espalhassem por todo o mundo. A antiga forma de sociedade (Antigo Regime) foi abolida, gerando transformações na política, na vida cultural e econômica do país e, consequentemente as instituições aristocráticas e tradicionais, com igualdade entre todos os cidadãos perante a lei. A religião passou a receber severas críticas e ser suplantada por pensamentos racionais e lógicos, mudando o modelo teocêntrico (Deus) para o antropocêntrico (Homem). Foi neste contexto que a sociologia avançou, embora tenha sido criada por Auguste Comte em 1838. Contudo os fundamentos sociológicos só foram institucionalizados com Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber.

Ante o exposto, voltemos ao tema ? liberdade na experiência repleta das convicções do senso comum. Por isso que os sociólogos quando tentam considerar o fundamento de sua sociedade de uma maneira ordenada e sistemática, tendem a seguir o senso comum. Assim sendo os indivíduos normalmente são a fonte de suas ações; ?essas ações moldadas pelos propósitos e intenções de seus próprios agentes; pois as motivações dos agentes fornecem as explicações conclusivas sobre o curso que a ação tomou. O livre arbítrio e a singularidade de cada um e de qualquer indivíduo parecem ser como que uma ?prova grosseira? da sorte, como um produto da natureza antes que uma organização social específica?, segundo Bauman.

Diante disso, concluem os sociólogos e, aí, eles se voltam para a ?falta de liberdade? antes que para a liberdade. A liberdade é um fato da natureza, enquanto a falta de liberdade é uma criação artificial, um produto de certos arranjos sociais, onde há muito interesse sobre as restrições sociais, pressões, influências, poder coerção e outros fatores criados pelo homem, impedindo a liberdade. Aquele direito natural de todo ser humano, o de se manifestar. Portanto, tirar a liberdade do foco e se concentrar em suas limitações. Com isso os sociólogos desejam não somente explorar o mundo, mas torná-lo um lugar melhor para todos os seres humanos viverem. Cada um perseguindo os seus próprios interesses e, raramente o interesse comum. Somente o encontrado no indivíduo universal de que trata Thomas Hobbes(1588-1679), filósofo inglês, em seu livro Leviatã.

Assim, as ações humanas são regularizadas por forças além do próprio indivíduo, que visivelmente vem de fora (coerção) ou ostensivamente de dentro (projeto de vida ou consciência). Essas forças são totalmente responsáveis pela não causalidade da conduta humana, ou seja, ?nossa visão dos seres humanos como indivíduos com livre arbítrio e que determinam suas ações por meio de suas motivações, alvos e interesses?.

Conclusão: A nossa liberdade individual não pode ou não deve ser um dado adquirido junto a um tipo particular de sociedade. Ela existe somente como relação social. Ela não é uma propriedade, é uma qualidade pertencente a certa diferença entre os indivíduos, tendo sentido como oposição a alguma outra condição, além de ocupar um papel crucial na estabilidade e reprodução dessa diferenciação.

A liberdade individual, segundo Bauman, longe de ser uma condição da humanidade, é uma criação histórica e social.

 

 

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